domingo, 27 de novembro de 2016

o cantar das vidraças



III. 


                   “daquela porta afora
vais sozinho”
temo que vi voar sobre as dobras
do atlântico
aquela sinistra baleia
e que ela anunciava dois tempos
a extinção
e a muda
quando pus meus olhos
tortos
sobre o mar que escorria da Babilônia
tive a certeza de que um de nós
sempre cairá sozinho
enquanto o outro faz tecer
o destino sempre renovado das águas-vivas







IV.                                                                                                                                                                                                                     

      essa canção do abandono
como há de ser cantada
por uma trupe de pedintes na praça
da estação ferroviária
a mão alcança daqui
aquela vela arqueada
entre os sete possíveis destinos
de um que ama
eu juro que ouvi uma senhora dizer
“levam-se os amantes
todos
sem nenhum amor”
enquanto amava explicitamente
seu cigarro
nesta cidade não há baleias
mas há a praga da sarna
a sífilis
uma cadela estatelada
na avenida brasil
nessa cidade há um pombo
pelado
que ronda a praça central
dizendo saber
os segredos maiores
do amor 

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