I.
escuta daqui essa abafada música
que se eleva das
vidraças
e das flores
presas nas janelas
e das mulheres
por detrás das portas
e das maçanetas
que por um segundo
já se sabem tão
certas
do abandono
escuta daqui
enquanto a madrugada
pede contorno de
sua própria
placidez de sono
preste bastante
atenção:
nos pássaros que
daqui se dispõe a cantar
e naquele ritmo
tão distante dos portões
e no tilintar
violento do ferro
e naquela lâmina
que desceu de Plutão
e nos partiu em
metades tão improváveis
II.
ouve bem para que nunca diga
que não te
avisei
toquei hoje um
planeta impossível
nos nós de meus
dedos ainda sobra
a poeira daquele
sem nome
toquei a
campainha de casa
vestido de
irreconhecíveis metais
anunciei-me
dezessete vezes
ao que tudo
respondia
um silêncio
de longe latia aquela
cadela manca
daqueles
vizinhos caolhos
dessa
civilização perdida
eu permanecia
parado no umbral
sem certidão
sem planeta
um par ridículo
de meias
e a esperança de
sempre
e sempre
haver a certeza
da casa
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