sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

aquele poema eletrônico que te escrevi

hoje estou de novo
acompanhado de seu fantasma
e você me pôs a pensar
de novo em astrologia
leio no tom da sua voz
como podem os peixes
morar no céu?


I.

é que tenho perdido a compostura
olhado demais a tela do celular
é um jogo e não é
ao mesmo tempo uma ciência
de planetas opostos
como se fosse possível
te alcançar nas vitrines das lojas
também, nos vidros embaçados
das escadas rolantes
como se te ouvisse
no intervalo das máquinas
quebradas
das lâmpadas piscando
sem sono

II.

mas podem ser só um papéis
extratos de banco, notas de farmácia,
listas de supermercado
podem ser só papéis
ou podem ser seus retratos mais
preciosos
quinze reais gastos na loja de doces
uma cartela de novalgina
cervejas, amendoins, pães frescos
dois chocolates twix

III.

enquanto isso
estou a gravar seu rosto
nessa tentativa de metal
entre as coisas
que se desfazem pelos dias
sempre você
e o poema
estes objetos
elétricos sem nome
sem forma
só sons


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