I.
empilhada ao
lado da geladeira
uma memória tua
com seu cabelo
castanho
de colorir
figuras
é uma nova
emergência, essa
a de
reestabelecer
sua memória nos
cômodos
mais frios da
casa
II.
todos os
aparelhos eletrônicos
estão desligados
eu estou sentado
no sofá
lendo uma
fotografia tua
desde que você
chegou
no poema
fiz uma lista
dos
objetos em que
te escuto
aqui em casa
- no corrimão da
escada
- no ranger no
piso de madeira
- nas molas do
sofá
- na geladeira
descongelando
- no interfone a
tocar sozinho às 5 da manhã
III.
você este som
abafado
que corta a casa
a casa do poema,
entreaberta
aqui entre os
monitores
velhos
desligados
lendo as tuas
fotografias
como num
epitáfio
aqui
jaz
e no meio de tudo
teu rosto nas palavras
colado
IV.
você ainda
existe
duas vezes
janela, reflexo,
olho
o jogo é quem
verá mais longe
V.
quem vai cortar
no vidro
o primeiro caco
VI.
a memória é
tanto
sua quanto minha
ao lado da velha
geladeira
colecionando
nomes
de coisas que
não
propriamente
pertencem
a qualquer corpo
isso de sentir
tua falta
em cada cômodo
isso de ler tuas
fotografias
isso dos sons e
aparelhos
eletrônicos
todos
a malfuncionar
isso de te botar
aqui
vivo em um poema
que você não vai
ler
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