quinta-feira, 8 de março de 2018

na minha vida passada fui um gato


a primeira pista
foram as pupilas
depois o jeito
dos quadris
olhava insaciável
para todos os cômodos
nos móveis entediados
a matéria da caça
entre os dedos
as garras
e a vontade de morar
nos destroços da casa


corria com despeito
nas quatro patas
quando alguém chegava
novo, velho
o cuidado era o rosto
constante do gato
estava sempre
a prever o próximo segundo
contando de trás pra frente
 o tempo


e sendo gato corria
mais rápido que a palavra
ficava ali então
bicho sem nome
pulando a geladeira
o fogão sem bocas
bicho sem casa


e tentava ser mais rápido
contornar a noite
e os restos de metal
deixadas na sala
sabia que era um bicho
do impulso
sabia da boca aberta
contra as baratas
mas queria ser outro
um bicho sem nome
então
qual é o seu destino?


a última pista
o nome correndo
atrás do bicho
pela casa
ninguém a saber
quem vai por onde
é isso então
que faz o rosto nas fotografias
tão contentes
isso de não encontrar nunca
teu próprio retrato 

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