o amor ainda é aquilo
que estava
no pé da página
:o que entra agora é uma memória
da quinta série
ou antes
ele pega minha mão.
ele pega minha mão.
quando ele abre
a boca diz
cacto
e algo novo
habita o mundo
é este o som que eu
não consigo copiar
que sempre
retorna
retorna
enquanto ele naquela dia
pegava minha mão
e dizia algo
sobre ser muito
fácil cultivar
um cacto
escreveu no pé
da página
eu
te amo
e foi embora
e é disso o som
que volta
na mímica da tua
dicção pesada
devagar
umcactoéfácildesecultivar
os espinhos
são folhas atrofiadas
a palavra
sua palavra
é a medida
quase exata de água
necessária
para lavar o cacto
o grande cacto
de pé na cozinha
no banheiro
no quarto
repetindo a noite
inteira
o começo
interminável de seu
nome
não é possível
cortar um som
pela raiz
- o som não é
coisa própria
de ouvido
enquanto
você ia embora eu
gravava os
acontecimentos
em câmera lenta
e em retrospectiva
:sua mão pegou a minha
o cacto fácil
de se cultivar
o pé da página
eu
te amo
o ritmo de tudo
isso no meu
ouvido
anos depois este poema
tentando imitar
seu jeito
de inventar vida
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