quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

poema do supermercado

existe aquele boato de que
se você olha uma hora toda igual no relógio
tem alguém pensando em você
e aí você imediatamente pensa
em quem você gostaria de estar pensando em você

(para)

onze, responde
porventura é um número cabalístico?
aquilo que escrevi ontem
chegou na minha cabeça com a tua voz
rouca, de manhã
colhendo romãs caros demais
no supermercado
procurando a resposta difícil por trás
das perguntas mais simples
manufaturando olhos de boneca
de pano
como quem diz que deus
é um cuidado a mais

(para)

eu tenho medo de mágica
todo dia eu lembro
do circo no terreirão
da nuvem pesada demais
dos palhaços enfeitados
lá a tua voz ainda não me ditava
o ritmo de colher
frutas no supermercado
existia ainda
um gesto de simplicidade
no olho dos magos

(não pode parar)

a tua voz na minha cabeça é
ainda persistente
toca as frutas, aperta
cheira, deixa escorrer o mel
no peito áspero
se não for magia, é loucura
carregar o teu fardo
teu ritual de supermercados
tua invasão a domicílio

pela boca fisgam os anzóis
pela mão, pelo trocar
dos dedos
fisga
teu rosto de feiticeiro

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