sábado, 16 de dezembro de 2017

Roma


um emaranhado de palavras
constroem um domo
a primeira delas
- língua
contorcia-se
em seus limites
querer significar mais
diziam as bruxas
era o porfim de qualquer
feitiço


mas até então nenhuma palavra
era de fato dele
eram memórias que
cabiam na sorte
de conhecê-lo
- vem das bruxas
o costume
de amortalhar
as palavras
que ele esquecia
enquanto caía a Roma


e elas dizem o ciclo
se repete
sobre os ombros dele
amanhecidos
alguém esqueceu
um leão
dois leões
um ponto de partida
que seja diferente
daquele que
ele mesmo te deu
vai bruxa
vem bruxa
o ponto da costura
cego ainda


e estamos ainda
deitados
o lençol é a runa é
o dia em que
se amarraram as costas
dele à tua


até que os prédios pegaram fogo
ao som das gargalhadas
das bruxas
elas sabiam 
a palavra água não
vai enxugar o incêndio
a palavra água não vai
enxugar
o incêndio
ele cuspiu a primeira
labareda
ele queimou primeiro
os lençóis depois
as cômodas
nossos livros
e a sala de estar

por último me fez a palavra
da despedida
carvão
fumaça
fedor
e então
cinza 

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