domingo, 8 de outubro de 2017

[perfect blue]

I.
pressionar o dedo contra
o vidro gelado
até que ele ceda
(do outro lado
a outra imagem
outra tanto que
veste a pele dos cavalos)

II.
o quarta estava a cheirar
a roxo e deixávamos
a pouca luz entrar
por entre os dentes
:agora que até
os demônios estão mortos
teremos medo
do que?

III.
o vidro cessou a quebrar
intacto se
equilibra sobre
a cabeça
rodando não
anuncia
seu próximo disparo
(este será fatal)

V.
o privilégio que tem
os robôs de
esquecer
:nós com a cabeça
cheia de copos
nós com a eminência
da queda
do caco no olho
esquerdo
nós com a insuportável
certeza
de que a memória
é um revólver
na cômoda
com a mira de
um Deus
sem piedade

VI.
o dedo pressionado contra
o espelho gelado
vidro a palavra
que corta a boca
por trás
decepciona a quantidade
de sangue humano
a quantidade de nervos
sob a pele
e tua boca não é
capaz de
resolver este problema
químico:
a areia que nos olhos
em breve
se tornara o corte
nada segura o punho
contra as janelas
da cozinha
contra a mesa de
jantar nada
segura a mira
do revólver carregado
da bala entre
os dentes de porcelana
da inevitável vidraça
que é o teu corpo
o teu sexo
de cristal barato
o dedo pressionado contra
o espelho
gelo, vidro, tudo
é o teu reflexo 

Nenhum comentário:

Postar um comentário