sexta-feira, 13 de outubro de 2017

um poema é sempre impossível


a palavra-cacto sobrevoou
a cabeça dele
:do que sonham
as plantas
quando dormem?

não se espera nada do poema
que nasce já duro
nada de quem dorme
em torno da palavra-deserto
com os lábios
rachados na borda
da piscina
:são escadas mas
não dão em lugar nenhum

a palavra-flor é aquarela
murcha é giz de cera
é o não querer
ver os olhos dele
em tudo

é o querer encontrar
nele o frasco
palavra-veneno

é querer derramar
o sulco das
cascáveis
sobre os dentes
rígidos dele

colado à palavra-seca
fazer jorrar
quando todas as
noites
o frio te lembrar
dele

e quando ele não vem
morrer às portas
da palavra-dia

rasgar os vidros
das janelas
com a boca
:a palavra que dorme
entre as coxas
dele

entre as coxas dele
as palavras
que iluminam a cidade
e as que fazem
escorregar da língua
o deserto

suspenso na palavra-corpo
o último dia
o lábio dele em neon
rachado
:as plantas quando
dormem
sentem sede

o sonho dele é um misto
de pavor e umidade
as folhas
retraídas em
espinhos
por todo o tempo
a sede
o suor
o orvalho

a palavra chuva
não vai
matar a sede
dos atormentados

é o querer a palavra
toque
separando
a areia
de cada um
dos cílios dele



sabe Deus
é querer não
sentir saudade



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