a palavra-cacto
sobrevoou
a cabeça dele
:do que sonham
as plantas
quando dormem?
não se espera
nada do poema
que nasce já
duro
nada de quem
dorme
em torno da
palavra-deserto
com os lábios
rachados na
borda
da piscina
:são escadas mas
não dão em lugar
nenhum
a palavra-flor é
aquarela
murcha é giz de
cera
é o não querer
ver os olhos
dele
em tudo
é o querer
encontrar
nele o frasco
palavra-veneno
é querer
derramar
o sulco das
cascáveis
sobre os dentes
rígidos dele
colado à
palavra-seca
fazer jorrar
quando todas as
noites
o frio te
lembrar
dele
e quando ele não
vem
morrer às portas
da palavra-dia
rasgar os vidros
das janelas
com a boca
:a palavra que
dorme
entre as coxas
dele
entre as coxas
dele
as palavras
que iluminam a
cidade
e as que fazem
escorregar da
língua
o deserto
suspenso na
palavra-corpo
o último dia
o lábio dele em
neon
rachado
:as plantas
quando
dormem
sentem sede
o sonho dele é
um misto
de pavor e
umidade
as folhas
retraídas em
espinhos
por todo o tempo
a sede
o suor
o orvalho
a palavra chuva
não vai
matar a sede
dos atormentados
é o querer a
palavra
toque
separando
a areia
de cada um
dos cílios dele
sabe Deus
é querer não
sentir saudade
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