I.
arqueologia
nossa
de cada dia
(o limite da tua
orelha
coberto de
relvas)
voltam os
arqueólogos
mas não voltam
as cidades
perdidas
os beijos dados
atrás das casas
o animal
metamorfo
que ninguém
soube
nomear
:o corpo do
passado
não volta mais
as algas que
decoravam sua
entrecoxa
os beijos de rã
roubadas
do córrego que
ninguém
mais conheceu
- saudade
é o que podemos
ter
- saudade
é o que te traz
mais
perto
- saudade
é a palavra mais
erótica
(ossadas sem
sentindo
enterradas
no nosso
quintal)
II.
imaterial é o
meu corpo
sem desejo
esculpindo na
mesa molduras
sem
retrato
imaterial é a
minha mão
direita
da palavra
a fome
(as paredes não
tem
fotos nossas
o reboco pode
ser
esconda
alguns retratos
manchados
mas é atrás
bem atrás
na estrutura
mínima
de algum
elemento
químico
que se esconde
o teu olho
castanho
:primeiro
tiranossauro)
III.
o
movimento da escavadeira
é
altamente sexual
me dizia ela
em francês
o que fazia tudo
soar ainda mais
erótico
não
só poeticamente
também
de um ponto
de
vista da psicanálise
eu dizia em
português:
é então as
coisas
se complicaram
minha
primeira escavação foi
quando
botei
minhas
mão por baixo
da
calcinha
dela
e estourei uma tubulação
delicada
ela diz e fuma
um
cigarro dos mais
clichês
quando pergunta
a mim
digo que não
tenho o costume
de
escavar perto
das tubulações
que ela
tanto aprecia
qualquer
um pode desenterrar
um
cadáver com as mãos
a
qualquer momento
:o
movimento da escavadeira
é
altamente amoroso
e ela leva
minhas mãos
para passear
em um sítio de
construção
me
diga,
qual
era o teu dinossauro preferido?
IV.
poemas sobre
dinossauros
viagens ao
passado
ao futuro de
algum planeta
ainda
primitivo
:quem garante
não estarmos
hoje perto
de uma nova
era jurássica?
ele me dizia que
via
vales de neon
repletos de
ossadas
e que adorava
colocar a boca
de leve
contra as
intersecções
que faziam
os sons, as
cores e os
rugidos
ele me dizia que
a primeira vez
em que eu mordi
a costela
dele era
como um cifre de
triceratops
que
a minha
barba
na nuca dele
era
como os dentes finos
dos
velociraptors
eu
disse a ele
:nomes
de dinossauros
não
soam bem
em
um poema
ele
me disse que
nada soa bem em um poema
porque o poema é sempre
a representação pobre
de um ecossistema impossível
nada
soa bem
no
poema exceto
os
sons que fazem
os
dinossauros
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