sábado, 27 de maio de 2017

poema do desequilíbrio

sem título I.

um dois três quatro cinco seis
minha avó conta
na cozinha antes
de procurar pela casa
“haja paciência”
ela reclama enquanto
as crianças gritam dos cômodos
lotados de livros
de mofos
“vai cair uma estante
em cima de vocês”
grita minha avó
a estante balança
não cai
a poeira dos livros
espalhada
no chão da sala
meu rosto retorcido em um
espirro
haja paciência eu
não vou procurar
essas crianças
escondidas
pela casa
eu vou fechar a porta
do quarto
e abrir um documento
em branco
digitar um poema
vai se chamar assim:
não encontro um nome
vai falar disso:
não encontro você
dentro do poema
vai ter um momento em que eu
vou relacionar
algo sobre as crianças
e as estantes de livros
com um tema
algo sobre você
que fugiu do poema e foi
para o Rio
que tem em mim um fiel
cultista
que não me vê
e aí o poema vai terminar
de alguma maneira
otimista
sobre o quanto nós
precisamos conversar sobre
o desequilíbrio
sobre o quanto eu falo
sozinho e finjo
que alguém escuta 

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