sem título I.
um dois três
quatro cinco seis
minha avó conta
na cozinha
antes
de procurar
pela casa
“haja paciência”
ela reclama
enquanto
as crianças
gritam dos cômodos
lotados de
livros
de mofos
“vai cair uma
estante
em cima de
vocês”
grita minha avó
a estante
balança
não cai
a poeira dos
livros
espalhada
no chão da sala
meu rosto
retorcido em um
espirro
haja paciência
eu
não vou procurar
essas crianças
escondidas
pela casa
eu vou fechar a
porta
do quarto
e abrir um
documento
em branco
digitar um
poema
vai se chamar
assim:
não encontro um
nome
vai falar
disso:
não encontro
você
dentro do poema
vai ter um
momento em que eu
vou relacionar
algo sobre as
crianças
e as estantes
de livros
com um tema
algo sobre você
que fugiu do
poema e foi
para o Rio
que tem em mim
um fiel
cultista
que não me vê
e aí o poema
vai terminar
de alguma
maneira
otimista
sobre o quanto
nós
precisamos
conversar sobre
o desequilíbrio
sobre o quanto
eu falo
sozinho e finjo
que alguém escuta
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