meu avô tinha
um fiat uno prata
sentava-se na
varanda
de sua casa em
frente ao carro
que quase nunca
dirigia
usava-o de
rádio
Lupicínio
cadeira vazia
canções de
corno como
dizia minha avó
na vida teve
duas ou mais
amantes,
adorava comidas
de botecos
e era fã
inegável da pornografia
nacional
morreu com um
inchaço no
estômago não
podia comer
o bucho no
almoço de
domingo, mas
comeu
hoje quando calcei as meias
minha avó e minha mãe
riam de seu
comprimento
até as canelas
“ridículo, igual ao avô”
se os fantasmas usassem
calças jeans
substancialmente
não há diferença
entre o ato da
armadilha
e do indicador
contra o polegar contra
os prendedores
no varal
a roupa suja é
um ritual
como todo
processo da casa
o polegar e o
indicador
o corpo da
cerveja o anel
tudo isso
configura misticamente
um homenagem
aos mortos
hoje é dia dos
pais então
substancialmente
não há diferença
entre o ato do
disparo
e o cantar do
garfo contra o prato
contra o
discurso da memória
no almoço de
família
velar teu corpo
sobre
a mesa
fotografias no quintal
é um ritual
como todo processo
de esquecimento
Amei Matheus.... vi realmente o nosso avó.... parabéns ... que Deus te dê muita sabedoria
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