Eu
nunca me esqueci de nada. Isto define uma vida longa: áspera, quando contra a
língua. Gelo é uma das minhas memórias favoritas. Também penso em uma cor
específica no espectro de verde, próximo ao azul, um adesivo costurado em algum
suéter de um estranho, cujos olhos me chamaram a atenção. Não era nada
sobrenatural, no entanto, era extenso como um bonde atrás de um bonde atrás de
um bonde. Metal verde camuflado – foi o nome do meu primo sonho vívido.
Eram
estes os fardos dos quais não coseguia me livrar: devorar planetas quando
sentia fome; sentir fome; não usar talheres. Minhas narinas tinham um peso
colossal. Eu gostava de hóquei, mas não entendia o conceito por detrás do
esporte. Lembro-me de assistir um jogo um dia e só. Lembro-me de uma linha de formigas
na arquibancada do colégio e do garoto gordo que se sentou por cima delas com
um sorriso cruel. Sua propensão ao vil me lembra da cor marrom e me abre o
apetite.
Mas
o que come um Papa-Mundo? O que mata sua fome? Pouco, devo dizer, muitos
engolem as folhas de jornal, digerem-nas com o gosto da verdade simples e
direta – preto no branco. Eu sempre fui um afeiçoado às memórias.
Principalmente ao som que algumas reproduziam ao bater no fundo do estômago.
Minha fome é recriar estes sons. E como é ácida a sensação.
Minha
maior dificuldade é fechar os olhos: vejo sempre um cavalo, ou alguns cães. A
cor de tudo é bege amarelado, início de verão. Aquilo que me escapa eu ainda
não apanhei – a flor enterrada no subsolo.
É o
destino de um Papa-Mundo afinal, buscar abundância na penúria. Passar a vida
com um vazio no estômago. A boca sempre seca. Pois que memórias só se comem
depois de digeridas, só se lembram assim que perdidas.
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