sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Autorretrato em óleo diesel

por toda minha vida
procurei a magia
onde ela menos poderia
estar (sobre os dedos
curtos dele, embaixo de
algum pneu furado)
teimei que
existia talvez uma palavra
capaz de manifestar
o feitiço
vem ele dizia o nosso
toque vai suspender
as heras
muito pelo contrário
a mecânica
de um sorriso sugere
que a eventualidade
das máquinas
vai acabar nos tornando
amantes cada vez
mais fúteis
(não que isso seja um problema
ainda)
mas a magia onde está?
sobre o terrenos das fábricas
sobre os relógios das avós
um presente escondido
no fundo do armário
aquela memória espasmódica
tua colhendo jabuticabas
não era nenhum rei
nem era gente
se possível, era palavra
e nem acontecia
porque é disso que meu
rosto envelhece
de cortar engrenagens
e pintar nelas
um nome que escapa
e escapa e escapa
porque não teremos
nem um segundo a mais de
descanso nessa
nossa procura pelo fim do dia
e a magia, se vem
vem de mansinho
a cavalo de pau, vassoura
como fingíamos
brincar de velho oeste
(e isto nunca foi possível)
a magia por ser sempremente
impossível dá esse tom
como quem jamais domesticaria
um androide
a magia contém a cor
de um neon indescritível
que um dia habitou as flores
mais raras do Nepal
mas ela não se dobra ao olho nu
como são
todas as coisas mais bonitas
do mundo

eu estou ficando com a vista cada vez
mais doce
qual será a cor dessa palavra
que se perde sempre por um triz? 

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