Maria
eu sinto uma
saudade
tão grande
daqueles dias
em que eu era
viajante
os dias em que
eu montava
em rinocerontes
na Ásia
em direção
aquela pequena
cidade no Japão
onde eu
compraria novos brincos
sim Maria eu sei
minhas orelhas
nem são furadas
mas o que será
que meu olho viu
passar voando
entre aqueles
dedos magros
que virou uma
chave?
você entende
disso
de fechaduras?
você entende
porque
eu tenho mudado
tanto
a cor daquele
vaso
e as estampas
das minhas cortinas?
e porque depois
de tanto querer
encontrar um
planeta novo
eu simplesmente
me decidi ficar?
Maria que
vontade é essa
de ficar aqui na
sua casa
fumando esse
cigarro
elétrico e
tecendo
nove possíveis
caminhos
para um daqueles
amores
de estação?
desde quando nós
fumamos
cigarros
elétricos?
que coisa é essa
Maria
que dá vontade
da gente chorar
que é essa
mentira
que a gente
conta
pro porteiro e
pro taxista
e praquelas
nossas amigas
que fizemos
ontem
na porta do bar?
que mentira é
essa
elétrica
que a gente fuma
e que a gente
engole
e que a gente
diz
que quer ir
embora
e engolir fumaça
mesmo
e vomitar sangue
mesmo
e tossir rouco
mesmo
Maria esse teu
vinho de mentira
a gente comprou
na quitanda
e trouxe pra
jogar fora
na privada e
dizer
pro seu irmão
trancado no quarto
que bebemos
vinho e que
recitamos poemas
e que
cantamos aquele
antigo
disco do
Belchior
inteiro enquanto
dizíamos
ai
tudo que eu quero é amar
porque nós somos
falsos
Maria
e andamos por aí
com nossos cigarros
elétricos
e nossos discos
elétricos
nosso vinho
elétrico
nossa garganta
elétrica
rouca
de mentira
porque grita aos
deuses
que nós plugamos
na tomada
eu
quero eu quero eu quero
mas Maria que
bosta
de mentira é
essa?
desde quando eu
inventei
que eu fumaria
esse cigarro
elétrico e
cheiraria
desse pó
elétrico
e engoliria
dessa bala elétrica
só pra que no fim
do dia
eu tivesse uma
oração pra fazer
dizer ai meu deus
e suspirar essa
poeira de mentira
Maria que longa
volta
é essa?
que baita
mentira é essa nossa
de sair pra
comprar cigarros
no meio da noite
que eu nem sei
mais acender
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