Cláudia, as
cartas não mostraram nada de novo
parece que esse
próximo ano
será ainda como
que os peixes
que hoje se
vendem nos mercados
e que tem aquele
gosto
extremamente
doce
e eu acho que
nós temos disso
de não gostar
desse sabor doce
que fica
esquecido no canto da boca
e que repete o
tempo todo
um padrão uma
cor uma lembrança
ah Cláudia esse
ano foi um pouco
uma lembrança
e foi um pouco
como se é triste
quando criança
se descobre
não poder
aprender truques de mágica
mas pelo menos
temos
aceitado um
pouco como as coisas
mudam
e temos tido
paciência
com aquelas
samambaias
que nunca
crescem apesar de
sempre se
anunciarem com muito ardor
temos posto as
nossas mãos
pra fora da
janela Cláudia
com muito
cuidado
certos de que o
vento lá fora
carregaria um ou
dois elefantes
mas pelo menos
temos aberto as janelas
e temos até nos
esquecido
de que comer
peixe nos deixava
com um gosto
pela nostalgia
e então temos
comido
sem saber do
futuro
e sem se
preocupar que os peixes
tem longos
espinhos doces
e que nosso
estômago é fraco
e digere tudo
tão devagar
eu aprendi
Cláudia que devíamos
esquecer mais
e desatar esse
compromisso com a memória
e eu lhe digo
com alguma
pouca e fraca
certeza
de que isso de
tentar lembrar é atoa
e que mesmo que
nós continuemos
a lembrar todo
santo dia
os peixes ainda
engolem barras de chocolate
e as samambaias
fingem crescer
e o vento lá
fora zomba da nossa cara
é Cláudia eu
acho que isso
não depende da
nossa memória
e talvez as
cartas sirvam apenas
pra ser
esquecidas
e então
relembradas
como que numa
surpresa
é por isso que
ano que vem
devíamos fazer um
esforço
pra esquecer das
samambaias
e engolir os
peixes
e botar toda a
cabeça
de fora da
janela
devíamos tanto
fazer esse esforço
de esquecer do
tempo
e lembrar das
coisas somente
quanto elas
existirem
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