domingo, 20 de novembro de 2016

como afogar dinossauros ou diário de uma viagem a Andrômeda

 III.               



minha mãe dizia 
que meu pai escondia um planeta
completamente seco
debaixo da cama
essa foi minha primeira
grande viagem
aos dezoito anos
quando contra minha vontade
rasguei meu corpo
numa cama de algodões
entendi o quanto minha mãe
sabia de astrologia



        IV. 


                vamos ao planeta vermelho
você se lembra de quando eu desapareci?
se lembra dos cartazes?
ao planeta vermelho
os postes daquele planeta azul
abandonado
onde nos vimos pela primeira vez
infestados de fotos minhas
onde estava eu?
ao planeta vermelho
flutuei por quinze semanas
numa rua vazia
da via láctea
tentando esquecer a memória
esquecer a memória
esse fio de estrelas que me enfeitam
a cabeça
não tem ponto cego
vem, vamos ao planeta vermelho
eu lhe disse numa noite
sem estrelas
nas férias de verão
que espalhasse meus restos mortais
no planeta vermelho
eu lhe disse naquela noite
que saberia voltar
mas foi naquela noite
que me perdi




V. 


veja essa estrela
é tão verde quanto seus lábios
mas isso não me encanta
não mais
do que o jeito que se vestem
essas algas
estou há vinte semanas
sem pronunciar seu nome
e ontem vi um jacaré
dizer que Andrômeda estava logo ali
não tardar
me esqueço do tempo
em que morei por meses no dorso de sua língua

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