sábado, 28 de setembro de 2019

O papa e o monstro



As tardes de sábado caíam como uma luva
Ou um meteoro, lembrou de assistir na tv
Desenhos em que as mensagens
Só se descobre na vida quase adulta
Quando nada acontece e você vira o relógio
E quando descobre o Diabo e as correntes
“que não te prendem, não te esmagam”
Dizia teu conselho
Quando acha que a liberdade é só minha
Para conquistar nesse sábado morno
Em que o único acontecimento foi
Olhar aqueles homens tristes no tinder
Mirando a tristeza de quem reflete
Como se caminhássemos nus mas ainda
Tivéssemos receio e colocássemos as mãos
Sobre o pinto
Ah como se ninguém visse pinto!
Ou pensasse em pinto
Ou fantasiasse o pinto do ator na tv
Como se ninguém soubesse que a liberdade individual
É algo inato e perigosamente explosivo
Como o abraço que neguei no passado
Na juventude rebelde, a contragosto
Como o desejo que aquietei e sorri
A contragosto na festa de família
Ah como é cafona tudo e como é cafona,
Na juventude, dizer que nada presta
E que não se gosta de gente
E que a tecnologia é o mal do século
Ah como é tão sexy fingir não amar
E ter o coração como um órgão apenas
E transar sem tesão só pra gozar
E depois de gozar guardar o pinto
Com vergonha na calça
Rezar a missa diária, os pés invertidos
Eu ouço teus conselhos como bombas
Eu protejo meu peito como aquário
Eu olho lá fora e como me arrependo
De não ter sido tão patético
Como aqueles homens
Com os pintos tão tortos ao vento
Realmente uma imagem patética
Um pinto torto
Saudando o vento



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