quinta-feira, 15 de março de 2018

Ronaldo McDonald



talvez um de nós vá dormir
com as formigas
não se desespere
isso não é uma ameaça
a nenhum um de nós
isso é um fato
uma consequência
como todo pedaço de pão
tem seu delivery

essa é a nossa cidade
faixas de mp3 remixadas
o calor estranho de um abraço
a meia-noite do primeiro encontro
quando transamos
no banheiro do fast food

essa é a nossa casa
o gergelim envelhecido
o bife, disseram
era feito de minhocas



I.

e assumimos este fardo:
de morder sempre
a mesma carne emborrachada
pelo sabor? não
pela textura mesmo, nojenta
por motivos de velocidade
e de segurança: o gosto
é sempre o mesmo
(ainda hoje não sabemos
se é minhoca, isopor
ou um tipo de desilusão amorosa)

II.

e aprendemos a valorizar
a constância do produto
quando ele fecha o zíper antes
de sair muito mais fast
do que food você já
não esperava nada diferente:
o preço é muito caro
e o brinde não é lá essas coisas



III.

ronaldo estamos
indo muito rápido
ela diz: o neon vai ser
a cor do século
você na porta do banco
olha o celular
olha para o céu
para os sacos de ketchup
e a mostarda que
ninguém abriu
numa sequência rápida
de imagens:
alguém rasga
os condimentos sobre
a roupa branca
bem do seu lado
o caos
os gritos
rápido demais
ronaldo
alguém tropeça
alguém ri, insensível
são as crianças
bêbadas
de ice
por um segundo
tudo é luz
depois alguém
entra no banheiro
do fast food e
quando volta tem
os olhos arregalados
a camisinha
que esqueceram no lixo
brilhava no escuro

IV.

são mesmo os tempos
de neon
essa é a nossa casa:
delivery acesso
no meio da rua borracha
queimando a setenta
por hora
a mesma noite vivida
em relâmpago:
ele chega, acende a luz
faz seus pedidos
e vai embora
um rosto na rua, outro
nas cabines de lanche
outro nos banheiros
e atrás dos semáforos
são mesmo os
tempos de neon
e não duram


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