talvez um de nós
vá dormir
com as formigas
não se desespere
isso não é uma
ameaça
a nenhum um de
nós
isso é um fato
uma consequência
como todo pedaço
de pão
tem seu delivery
essa é a nossa
cidade
faixas de mp3
remixadas
o calor estranho
de um abraço
a meia-noite do
primeiro encontro
quando transamos
no banheiro do fast food
essa é a nossa
casa
o gergelim
envelhecido
o bife, disseram
era feito de
minhocas
I.
e assumimos este
fardo:
de morder sempre
a mesma carne
emborrachada
pelo sabor? não
pela textura
mesmo, nojenta
por motivos de
velocidade
e de segurança:
o gosto
é sempre o mesmo
(ainda hoje não
sabemos
se é minhoca,
isopor
ou um tipo de
desilusão amorosa)
II.
e aprendemos a
valorizar
a constância do
produto
quando ele fecha
o zíper antes
de sair muito
mais fast
do que food você já
não esperava
nada diferente:
o preço é muito caro
e o brinde não é
lá essas coisas
III.
ronaldo
estamos
indo
muito rápido
ela diz: o neon
vai ser
a cor do século
você na porta do
banco
olha o celular
olha para o céu
para os sacos de
ketchup
e a mostarda que
ninguém abriu
numa sequência
rápida
de imagens:
alguém rasga
os condimentos
sobre
a roupa branca
bem do seu lado
o caos
os gritos
rápido
demais
ronaldo
alguém tropeça
alguém ri,
insensível
são as crianças
bêbadas
de ice
por um segundo
tudo é luz
depois alguém
entra no
banheiro
do fast food e
quando volta tem
os olhos
arregalados
a camisinha
que esqueceram
no lixo
brilhava no
escuro
IV.
são mesmo os
tempos
de neon
essa é a nossa
casa:
delivery
acesso
no meio da rua
borracha
queimando a
setenta
por hora
a mesma noite
vivida
em relâmpago:
ele chega,
acende a luz
faz seus pedidos
e vai embora
um rosto na rua,
outro
nas cabines de
lanche
outro nos
banheiros
e atrás dos
semáforos
são mesmo os
tempos de neon
e não duram
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