terça-feira, 19 de setembro de 2017

filete

a procura de um rosto
oco no concreto
é muito pouco
(uma andorinha
flexível
rodas de bronze
e alumínio
atravessam
o peito dele
morto
no concreto)
nada palpita entre
as vértebras
pulmonares frágeis
de um porco
espinho-poema
além de uma fraca
luz de neon
velas futurísticas
carros voadores
e o rosto dele ecoando
ecoando vozes
sobre a pele de papel
(poema vaso sem fundo
poema equilíbrio do
azul no nada
o pé da moça-sereia
na água
corre, corre pisa
em facas
acha príncipe casa
morre e sabe
então espuma
agora sonha de volta
com a casa: mar)
nós estamos cada dia
mais próximos mas
não estamos mais
interessados
em voltar
anunciação da volta: parede
limítrofe pés
que soletram a palavra
i n t e n ç ã o
e ele nasce de uma
concha
nas costas de um
tritão ele retira
da garganta – espada azul poema
e a rainha do mar
e as mulheres do mar
abrem os braços
(mas não volta
ele não
sabe  mais nadar)
seu rosto esculpido
no mármore
dos aquários vai
vai tentar de novo
cravar os dentes sobre
a lua vai
vai vestir o sol
também e botar os pés
na areia
turva: poema tubarão
deslocado mas vivo
a plenos pulmões um tratado
sobre a solidão
tudo é água
os beijos dele o jeito
que ele toca
o próprio corpo a deriva
tudo é água até
mesmo a sede


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