quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

laura

laura estendeu os carpetes
na porta do armário
ela me dizia
que era uma águia
e que voava
acima de mim
ela pegou minha garganta
fechada nos punhos
e ela disse
que era preciso
antes de tudo
que eu engolisse
os lençóis brancos da cama
eu lhe disse
que eu era alérgico
aos ácaros e que
isso não seria possível
ela disse que por isso
ela era a águia
eu era o pombo
eu era a presa
e a vítima
das circunstância
e então me prendeu
na dispensa e me dizia
pela porta
que eu devia deixar
minha garganta inchar até
que ela estourasse
dizia que eu saberia
o que dizer um dia
e que nesse dia
talvez eu fosse
um águia
e minha garganta
estaria aberta
como os punhos
dela na mesa
de jantar
e eu não seria
mais alérgico
porque laura insiste
que minhas alergias
são uma estupidez
coisas da minha cabeça
e não se é assim
sempre uma vítima
das circunstância
uma pomba
na janela do quarto
que bate no vidro e
cai no colchão e
bate no vidro e
cai no colchão
e bate no vidro
e se fosse
uma águia
o que você faria?
com a boca aberta
deixaria o pássaro
entrar e gritar
e semanas depois
fazer seu ninho
deixando as janelas
sempre abertas
porque as águias
não são também tão
espertas mas seus bicos
mordem as cabeças
dos pombos
que não são mais que
ratos embaixo do carpete
os ratos porém não batem
na janela
não caem no colchão
não tem a garganta inchada
laura eu não
sei voar nem sei nada
sobre isso de predar
são uma da manhã
meu nariz coça
você me impõe essa
missão de doer
de boca aberta
mas eu não sei
eu ainda estou
a bater a cabeça no vidro

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