laura estendeu
os carpetes
na porta do armário
ela me dizia
que era uma
águia
e que voava
acima de mim
ela pegou minha
garganta
fechada nos
punhos
e ela disse
que era preciso
antes de tudo
que eu engolisse
os lençóis brancos
da cama
eu lhe disse
que eu era
alérgico
aos ácaros e que
isso não seria
possível
ela disse que
por isso
ela era a águia
eu era o pombo
eu era a presa
e a vítima
das
circunstância
e então me
prendeu
na dispensa e me
dizia
pela porta
que eu devia
deixar
minha garganta
inchar até
que ela
estourasse
dizia que eu
saberia
o que dizer um
dia
e que nesse dia
talvez eu fosse
um águia
e minha garganta
estaria aberta
como os punhos
dela na mesa
de jantar
e eu não seria
mais alérgico
porque laura
insiste
que minhas alergias
são uma
estupidez
coisas da minha
cabeça
e não se é assim
sempre uma
vítima
das
circunstância
uma pomba
na janela do
quarto
que bate no
vidro e
cai no colchão e
bate no vidro e
cai no colchão
e bate no vidro
e se fosse
uma águia
o que você
faria?
com a boca
aberta
deixaria o
pássaro
entrar e gritar
e semanas depois
fazer seu ninho
deixando as
janelas
sempre abertas
porque as águias
não são também
tão
espertas mas
seus bicos
mordem as
cabeças
dos pombos
que não são mais
que
ratos embaixo do
carpete
os ratos porém
não batem
na janela
não caem no
colchão
não tem a
garganta inchada
laura eu não
sei voar nem sei
nada
sobre isso de
predar
são uma da manhã
meu nariz coça
você me impõe
essa
missão de doer
de boca aberta
mas eu não sei
eu ainda estou
a bater a cabeça
no vidro
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