Jonas aquele teu
primo
que não lê
poesia
qual é mesmo seu
nome?
aqui na minha
casa
ainda são nove e
meia
e eu vou dormir
as dez
mas Jonas eu
ainda não encontrei
uma roupa que
caiba
naquela memória
daquele dia que
no Maranhão
eu, você e seu
primo
discutimos o
porquê
da poesia ser
sempre um negócio
pra quem
acredita em milagres
você por acaso
não acredita
na história do
boto cor de rosa?
ou naquela
antiga profecia
de que um dia os
golfinhos
vão dominar a
terra?
Ah Jonas você se
tornou tão igual
ao teu primo
naquele dia em
que ele
resolveu que
desvendaria todos
os mistérios da
ciência
e que compraria uma faca de churrasco
e que sua tia
nunca mais
sentiria fome
é que você
esquece Jonas
esquece e está
sempre com fome
de
que?
e são essas madrugadas
que nos abrem um
buraco
que vai do
estômago à planta do pé
e foi assim que
você
comeu aquele
pequeno amuleto
em formato de
peixe
que a sua mãe
lhe deu no primeiro
dia de escola
você
gosta do mar
e você também
Jonas
mas a tua carta
me diz
que tem se
afogado demais e que
perdeu um pouco
o encanto
porque nessa
nossa idade
o
sal pesa mais do que a água
e tem sido mesmo
tempos salgados
um marinheiro
perdido
me perguntava
com quantas cordas
se constrói um
barco que nos leve
para os mares de
júpiter
e eu lhe disse
isso
é só uma memória
perdida
num mapa
mas eu me
pergunto se você
sabe o caminho
Jonas
e se você
de uns tempos
pra cá
tem acreditado
mais
nas coisas que
seu primo tanto odeia
e se você ainda
sente
tanta fome
eu tenho escrito
poemas
que não vão a
lugar algum
porque eu estive
muito tempo longe
e agora eu
resolvi ficar
e conversar com
os velhos amigos
então me diga
se você tem
comprado peixes
naquele mercado
do centro
todo domingo de
manhã
pra fazer o
almoço
eu estou a
esperar ainda
outra de suas
cartas
repletas com os
seus pequenos milagres
de pescador
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