quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

jonas ou um poema sobre pesca

Jonas aquele teu primo
que não lê poesia
qual é mesmo seu nome?
aqui na minha casa
ainda são nove e meia
e eu vou dormir as dez
mas Jonas eu ainda não encontrei
uma roupa que caiba
naquela memória
daquele dia que no Maranhão
eu, você e seu primo
discutimos o porquê
da poesia ser sempre um negócio
pra quem acredita em milagres
você por acaso não acredita
na história do boto cor de rosa?
ou naquela antiga profecia
de que um dia os golfinhos
vão dominar a terra?
Ah Jonas você se tornou tão igual
ao teu primo
naquele dia em que ele
resolveu que desvendaria todos
os mistérios da ciência
e  que compraria uma faca de churrasco
e que sua tia nunca mais
sentiria fome
é que você esquece Jonas
esquece e está sempre com fome
de que? e são essas madrugadas
que nos abrem um buraco
que vai do estômago à planta do pé
e foi assim que você
comeu aquele pequeno amuleto
em formato de peixe
que a sua mãe lhe deu no primeiro
dia de escola
você gosta do mar
e você também Jonas
mas a tua carta me diz
que tem se afogado demais e que
perdeu um pouco o encanto
porque nessa nossa idade
o sal pesa mais do que a água
e tem sido mesmo tempos salgados
um marinheiro perdido
me perguntava com quantas cordas
se constrói um barco que nos leve
para os mares de júpiter
e eu lhe disse
isso é só uma memória
perdida num mapa
mas eu me pergunto se você
sabe o caminho Jonas
e se você
de uns tempos pra cá
tem acreditado mais
nas coisas que seu primo tanto odeia
e se você ainda sente
tanta fome
eu tenho escrito poemas
que não vão a lugar algum
porque eu estive muito tempo longe
e agora eu resolvi ficar
e conversar com os velhos amigos
então me diga
se você tem comprado peixes
naquele mercado do centro
todo domingo de manhã
pra fazer o almoço
eu estou a esperar ainda
outra de suas cartas
repletas com os seus pequenos milagres
de pescador 

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