sábado, 19 de agosto de 2017

ladrilhos de azulejo

tudo que atravessa
o corpo:
estrela
galáxia
pedra
um outro corpo
as sete
da manhã
quando tudo que
ser quer
é continuar
dormindo

uma infinidade de noites
dinossauros
nossos dentes
trincados
um contra o outro
na tentativa
de sanar um desejo
que vem
de onde de tanto
tempo
de tanto esperar
rodas de ferro gigantes
cortando o céu de outubro
mês que te vi
pela primeira vez
deitado na cama
você era
uma visão
pernas no lençol
manchado
da sua casa
que você esqueceu no
sol tempo demais
eu tenho medo
eu tenho medo
você repetiu
eu tenho medo
também eu
não conheço nada
sobre dinossauros
eu não conheço
Goddard
eu gosto de cobre
mais do que
 prata
mas se pudermos
sentir a textura do ouro
eu aceito
mesmo que isso não
nos leve a nada
eu tenho medo
porque
eu tenho certeza
de que a vida
segue
um caminho
previsível
eu tenho
algumas palavras sinceras
pra dizer
do fundo do coração
e eu não
acredito em orixás
em deus
no diabo talvez
eu não acredito em
bruxas e xamãs
e isso me dá
medo
eu ouço meu pai
no fundo do corredor
e ele promete
um castigo
o quarto escuro
eu não quero
eu não quero
você
diz quando
meu dedo
aperta o teu peito
onde dói
e nós paramos
no tempo
do quarto
da casa
que você
decorou tão bem
eu te
digo tudo que
dá de uma só vez
com a minha boca
aberta de dinossauro
uma ferida
cortada por dentro
da tua boca
na tua bochecha
tem sangue tem
areia tem
um pedaço do seu molar
dos teus dentes
de leite eu
quero
acreditar em você
porque eu não
tenho deus
eu tenho pouco
eu tenho alguns
personagens de desenho
animado
dos quais
eu gosto muito
eu tenho
jogos de videogame
e livros
de poesia
eu tenho
fé no que?
eu nem tenho mais
o caminho
de casa
tenho dois dedos
no teu peito
e o quarto que
parou de rodar
junto com a terra
eu tenho
imagens de dinossauros
de um passado
remoto
quando meu
peito estava
aberto
antes
de que a fome
chegasse
chegasse
o meteoro
e os pelos no teu
queixo que
tem um formato engraçado
eu tenho
medo
e você
tem também
eu acho
mas você é tão
bonito
de um jeito que não
parece ter
muitas coisas
difíceis de se tocar com
os polegares
você arma
de plasma
canhão de fótons
um foguete lunar
você
cama desarrumada
por todo
fim de semana
fogo que não
queima
e que a gente
põe bem perto
do rosto
só pra poder
se sentir
como
se tivesse super
poderes
num domingo a tarde
contando os segundos
com os dedos
dos pés
amarelos de tanto
correr
no asfalto seco
da rua
você tem jeito de
casa
você tem jeito de
sonho
sem medo
você tem
na superfície
dos olhos
pedra
galáxia
uma estrela
de neon
no bar mais barato
da cidade
chamando meu
corpo contra
os azulejos
manchados
de azul
você ainda tem
um cigarro
de palha? 

2 comentários: