talvez esse não seja mais o Kansas

um site me orientou

a organizar minhas inseguranças

em um papel

para vencê-las

:que ele não me veja

:que ele não me veja

:que ele não me veja

  I.

quando segurei Toto

no colo

e o disse

bem baixo:

não acho que aqui

seja mais o Kansas

ele riu sarcástico

como quem diz

ora Matheus

você nunca esteve no Kansas

II.

enquanto Dorothy

me sussurrava

ora pois

não há lugar como a casa

não há lugar como o Kansas

e nossa fazenda

e Tia Em

eu pensava em Oz

e como as bruxas

boas me dariam sapatos

e as más, ora

morreriam com um balde

de água

Toto fugiu do meu colo

e mordeu Dorothy

nas pernas

roubamos seu mapa

e trilhamos nossa

estrada

de tijolos dourados

III.

goodbye yellow brick Road

e por aí vagamos

não há mesmo lugar

como Oz

onde podemos

magicamente

usar óculos verdes

e confundir

os tijolos de barro

por esmeralda

eu nunca fui ao Kansas

não fui a Emerald City

mas eu posso ir à qualquer lugar

meu olho é mágico

e poderoso

e num acesso de raiva

Toto me tira

a visão

IV.

se eu fosse

um desajustado

ao pé da estrada

de tijolos amarelos

me pergunto

qual parte do meu corpo

me faltaria

:Toto tirou meus olhos

mas me falta

ainda muito

o leão covarde precisa de sua coragem

o espantalho precisa de seu cérebro

um homem de lata de seu coração

estendo minhas mãos

na beira da estrada mendigando

:só sou algo quando sei o que me falta

V.

não se pode mais voltar

para o Kansas

e Oz

sabe-se bem

é um mago charlatão

diz às crianças

:o que você queria

estava dentro de você o tempo todo

Toto, a casa está dentro de nós

imagino?

só assim Dorothy pode voltar

Toto, será que temos

carregados por aí esse tempo todo

o nosso Kansas?

e o cachorro riu

cínico

ora, você nunca saiu de si 

os corações só serão práticos

quando não puderem ser mais partidos

e Toto gargalha

:talvez esse seja o caminho certo
meu amigo