terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

dois poemas inversos

isto é como ver nascer um poema
do dorso de uma girafa
é dessas coisas mais simples
de abrir uma janela às quatro da manhã
de dormir quando se tem sono
isto é uma daquelas memórias
em forma de baleia
(já não me lembro bem desde quando
as memórias tomaram essa forma
peculiar)
e tudo começa com a tua mão
percorrendo uma linha fina
de formigas nas minhas costas


eu te adoro
mas a minha cabeça está perdida
entre lhe dizer isso
ou esquecer
como sempre esqueço
como me ensinei
eu tento lhe fazer um poema
é quarta feira de manhã
eu tento lhe dizer a verdade:
esta
que eu tenho dedicado
um braço inteiramente
para não esquecê-lo
eu dedico o lado
esquerdo do meu rosto
orelhas
olhos
uma narina
metade da boca
para me perguntar
onde estaríamos se
o destino tivesse algum senso
de pena
eu te perdoo
como me perdoei
pela vida roubada
é ainda um incômodo
que todos os dedos
apontem para você
numa porta
entre teu cílio e
tua mão direita
eu bato de longe
numa força só minha
talvez eu diga

volta 

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