terça-feira, 29 de novembro de 2016

catástrofes jupterianas ou um poema alerta



I.

se eu desenhasse
um olho agora
sobre essa coberta
não seria o seu
mas o olho de um pelicano
sempre atento
às mudanças do mundo
e eu tentaria entender
então
de onde vem tanta secura
o porquê
dos meus rins estarem murchos
e minha cara deslizante
 e meu peito flutuando
de bruços
sobre o atlântico
a procura de um som
entre o quebrar de uma onda
e o nascer de uma bolha
me conte
por que tudo tem estado tão alerta
e por que eu lembro sempre
daquele aterro
na beira da estrada
quando eu penso
em dizer
adeus



II.

não era você
quem estava comigo
quando em júpiter
vimos explodir aquela bomba
quem era?
quando eu volto praquele
imenso terreno baldio
na capital daquele planeta
eu lembro de alguém
que não era você
e eu lembro dos pássaros
disformes
e de um assobio
e de ter um dejá vu
por cinco horas seguidas
em que eu deslizava
a ponta do meu dedo
no seu lábio inferior
quem era
quem era
quem era
eu sei que tinha gosto
de terra
e que cobria com as mãos
uma cinturão de estrelas
e que partiu nas costas de um urubu
e me disse
esquece que um dia me viu 


III. 

minha mãe me disse
que eu sempre chorei
ao passar naquele buraco
chorava copiosamente
dizia que via lá um homem
e dizia que ele vestia
uma imensa capa
com o desenho de todas
as estrelas
já catalogadas em vida
por um coronel de Júpiter
minha mãe dizia que eu implorava
pra que ele não me levasse
quando parava nosso caro
e pedia uma esmola
pra comprar cigarro
e que eu sempre temia
o fato de que seus olhos
pareciam uns de gato
e que na boca
ele havia tatuado
todos os 96 rios
de Plutão
se eu estivesse lá hoje
faria a ele três perguntas:
pra onde diabos nós voltamos?
como se descobre uma nova estrela?
você teria uma esmola pra que eu compre um cigarro?


IV.

Júpiter é um planeta
tão real
que nos dói a vista
estou sozinho
em um túnel
e a guerra ainda não aconteceu
e eu ainda não lembro
daquele homem
nem daquela capa
nem que é possível
viajar entre o tempo
o espaço
e os planetas
minhas mãos amarradas
e meu corpo no banco de trás
dizia
estou sozinho
e aquela curva ali
marca nossa chegada
a um ponto de onde não se volta mais
e é hoje
o dia em que uma voz
me diz
que é preciso voltar
e eu digo que não
e eu explodo uma bomba
eu lhes digo
Júpiter é um planeta tão
sério
enquanto tento rir
hoje
estou tão sozinho
comprei um relógio
em forma de peixe
fui me deitar sem
lembrar seu nome
enquanto conduzia
um teleférico
para a estrela mais próxima
onde espero descobrir
se há um motivo
para a existência das cigarras



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