I.
se eu desenhasse
um olho agora
sobre essa
coberta
não seria o seu
mas o olho de um
pelicano
sempre atento
às mudanças do
mundo
e eu tentaria
entender
então
de onde vem
tanta secura
o porquê
dos meus rins estarem
murchos
e minha cara
deslizante
e meu peito flutuando
de bruços
sobre o
atlântico
a procura de um
som
entre o quebrar
de uma onda
e o nascer de
uma bolha
me conte
por que tudo tem
estado tão alerta
e por que eu
lembro sempre
daquele aterro
na beira da
estrada
quando eu penso
em dizer
adeusII.
não era você
quem estava
comigo
quando em
júpiter
vimos explodir
aquela bomba
quem
era?
quando eu volto
praquele
imenso terreno
baldio
na capital
daquele planeta
eu lembro de
alguém
que não era você
e eu lembro dos
pássaros
disformes
e de um assobio
e de ter um dejá
vu
por cinco horas
seguidas
em que eu
deslizava
a ponta do meu dedo
no seu lábio
inferior
quem
era
quem
era
quem
era
eu sei que tinha
gosto
de terra
e que cobria com
as mãos
uma cinturão de
estrelas
e que partiu nas
costas de um urubu
e me disse
esquece
que um dia me viu III.
minha mãe me disse
que eu sempre
chorei
ao passar
naquele buraco
chorava
copiosamente
dizia que via lá
um homem
e dizia que
ele vestia
uma imensa capa
com o desenho de
todas
as estrelas
já catalogadas
em vida
por um coronel de Júpiter
minha mãe dizia
que eu implorava
pra que ele não
me levasse
quando parava
nosso caro
e pedia uma
esmola
pra comprar
cigarro
e que eu sempre
temia
o fato de que
seus olhos
pareciam uns de
gato
e que na boca
ele havia
tatuado
todos os 96 rios
de Plutão
se eu estivesse
lá hoje
faria a ele três
perguntas:
pra onde diabos
nós voltamos?
como se descobre
uma nova estrela?
você teria uma
esmola pra que eu compre um cigarro?
IV.
Júpiter é um
planeta
tão real
que nos dói a
vista
estou
sozinho
em
um túnel
e
a guerra ainda não aconteceu
e
eu ainda não lembro
daquele
homem
nem
daquela capa
nem
que é possível
viajar
entre o tempo
o
espaço
e
os planetas
minhas mãos
amarradas
e meu corpo no
banco de trás
dizia
estou
sozinho
e
aquela curva ali
marca
nossa chegada
a
um ponto de onde não se volta mais
e é hoje
o dia em que uma
voz
me diz
que é preciso
voltar
e eu digo que
não
e eu explodo uma
bomba
eu lhes digo
Júpiter é um planeta
tão
sério
enquanto tento
rir
hoje
estou
tão sozinho
comprei
um relógio
em
forma de peixe
fui
me deitar sem
lembrar
seu nome
enquanto
conduzia
um
teleférico
para
a estrela mais próxima
onde
espero descobrir
se
há um motivo
para
a existência das cigarras
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